Rodrigo..."> Rodrigo..." />
@crsf

Bilionária JBS deixou de pagar o equivalente a 68% do lucro em impostos federais desde 2024

Grupo recebeu mais de R$ 8,5 bi em isenções mesmo sendo a maior produtora de proteína animal do mundo

Bilionária JBS deixou de pagar o equivalente a 68% do lucro em impostos federais desde 2024

 

 Rodrigo Chagas

Só em 2024, o grupo JBS faturou R$ 416 bilhões - Divulgação/JBS

 

 

Nas manchetes deste 2025, dominam as tentativas do governo de elevar a arrecadação para evitar novos cortes orçamentários. Em paralelo, no mundo dos negócios, megaempresas acumulam isenções fiscais bilionárias. Sobretudo, as do agronegócio.

É o caso da JBS. Entre janeiro de 2024 e maio deste ano, a empresa deixou de pagar ao menos R$ 8,5 bilhões em tributos federais. Trata-se da soma dos benefícios concedidos a quatro dos CNPJs da maior produtora de proteína animal do mundo (JBS S/A, Seara Alimentos Ltda, Seara Comércio de Alimentos Ltda e JBS Aves Ltda).

Os dados estão disponíveis para consulta no painel lançado pela Receita Federal para facilitar o acesso a informações sobre os benefícios fiscais incluídos na Declaração de Incentivos, Renúncias, Benefícios e Imunidades de Natureza Tributária (Dirbi).

Em 2024, de acordo com informações divulgadas pela própria JBS à imprensa, o grupo registrou lucro líquido de R$ 9,6 bilhões. No primeiro semestre deste ano, impulsionado pelo bom desempenho da Seara, adquirida em 2013, por R$ 5,8 bilhões, o grupo anunciou lucro líquido de R$ 2,9 bilhões.

Isto é, praticamente no mesmo período, a multinacional lucrou R$ 12,5 bilhões, enquanto recebeu R$ 8,5 bilhões em benefícios fiscais. Quer dizer que a empresa deixou de pagar em tributos o equivalente a quase 70% do seu lucro: 68%, para ser mais exato.

Ranking de isenções – Grupo JBS
(Valor total: R$ 8.520.457.808,51)

  1. JBS S/A – CNPJ: 02.916.265/0001-60
    Valor: R$ 5.280.653.118,68
    É o CNPJ principal da JBS, com sede em São Paulo (SP), cujo nome fantasia é Friboi. A empresa do setor de suínos e aves foi adquirida pela JBS em 2013.
  2. Seara Alimentos Ltda – CNPJ: 02.914.460/0112-76
    Valor: R$ 2.471.329.159,64
    Trata-se do CNPJ principal da Seara, com sede no mesmo local do CNPJ da JBS.
  3. Seara Comércio de Alimentos Ltda – CNPJ: 83.044.016/0030-68
    Valor: R$ 522.567.421,71
    É um braço comercial da Seara com sede no mesmo endereço dos dois CNPJs anteriores.
  4. JBS Aves Ltda – CNPJ: 08.199.996/0001-18
    Valor: R$ 245.908.108,48
    Trata-se do CNPJ da marca Agrovêneto, especializada em carne de frango adquirida pela JBS por R$ 128 milhões, em 2012. A empresa tem sede em Nova Veneza (SC).

Para o engenheiro agrônomo e pesquisador Adalberto Floriano Greco Martins, os dados revelam a profundidade dos privilégios que cercam o setor.

“O caso da JBS é uma mamata sem tamanho”, afirma. “Uma única empresa ganhou mais de R$ 5 bilhões em isenção. Isso é quase o orçamento do Ministério do Desenvolvimento Agrário. É mais do que o orçamento do Ministério do Meio Ambiente. É uma aberração.”

O pesquisador considera inaceitável que o discurso de modernidade e tecnologia do agronegócio conviva com essa dependência de recursos públicos. “Esses marajás do campo são sustentados com o nosso dinheiro. E o pior: a gente ainda compra a ideia de que o agro é pop, é tech, é tudo”, critica.

Protesto de ativistas do Greenpeace em frente à sede da JBS

Protesto de ativistas do Greenpeace em frente à sede da JBS, durante a assembleia anual de acionistas da empresa, em maio de 2025 | Divulgação/Greenpeace

A maior parte das isenções concedidas à JBS entre janeiro de 2024 e abril de 2025 está relacionada à contribuição para o Cofins, que representa 76,3% do total dos R$ 8,5 bilhões em benefícios fiscais. Em seguida, aparecem o PIS/Pasep (16,5%) e a Contribuição Previdenciária (5,8%). Também há isenções menores sobre tributos como Cofins-Importação, IRPJ, CSLL e PIS/Pasep.

Setor de carnes entre os maiores beneficiados

De acordo com os dados da Receita Federal, o setor de carnes foi o segundo mais beneficiado com isenções tributárias desde 2024, com R$ 36,53 bilhões – atrás apenas do setor de adubos e fertilizantes, que deixou de pagar R$ 36,86 bilhões.

Os agrotóxicos (que constam como “defensivos agrícolas” no sistema) vêm logo atrás, com R$ 27,94 bilhões em isenções.

De acordo com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), englobando seus diversos segmentos, o agronegócio brasileiro recebe isenções de cerca de R$ 158 bilhões por ano. Segundo ele, o setor tem crescido no país, em parte, por ser “patrocinado pelo governo”.

“A renúncia fiscal do agro é R$ 158 bilhões. Vamos negar que estamos patrocinando o agro brasileiro? Estamos patrocinando o agro”, afirmou o ministro em audiência na Comissão de Finanças e Tributação da Câmara dos Deputados.

Para o economista Róber Iturriet Avila, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), a situação envolve uma contradição central.

“O agro costuma afirmar que não depende do Estado, que é competitivo e defensor do livre mercado. Mas é um dos setores mais beneficiados por isenções, créditos baratos e renegociações”, explicou.

“É um setor produtivo e relevante para as exportações, mas não necessita desses incentivos. Outros setores têm mais necessidade. Por isso, essas políticas deveriam ser extintas.”

“Estamos vivendo um bolsa agronegócio. Só de impostos federais, o agro como um todo deixou de pagar R$ 158 bilhões. É o mesmo valor do Bolsa Família, que atende 20 milhões de famílias. O agro atende uma parcela ínfima e concentrada da população”, apontou Adalberto Floriano Greco Martins, o Pardal, fazendo referência ao Bolsa Família, que, em 2025, custará R$ 158,6 bilhões.

A gigante e seus legados

Com presença em mais de 20 países e produtos comercializados em 180, a JBS é uma das maiores indústrias de alimentos do planeta. Só em 2024, a empresa faturou R$ 416 bilhões, cifra que supera o Produto Interno Bruto de 20 estados brasileiros.

A companhia lidera o setor de proteína animal no mundo, mas nas cidades onde mantém grandes plantas industriais, os indicadores sociais não acompanham o crescimento. Um estudo publicado em 2024 mostra que, entre 2013 e 2023, o número de famílias inscritas no Bolsa Família cresceu em quase todas as cidades com sede da JBS analisadas, incluindo Lins (SP) e Goiânia (GO).

A trajetória da JBS também é marcada por recorrentes denúncias de violações ambientais. Diversas investigações jornalísticas e ações do poder público apontam o envolvimento da empresa com a compra de gado oriundo de áreas desmatadas ilegalmente.

Escaladores do Greenpeace instalaram faixa de 1.200 metros quadrados no teto da JBS durante protesto em maio deste ano | Divulgação/Greenpeace

A prática, conhecida como “lavagem de gado”, foi descrita por pecuaristas ouvidos pela Repórter BrasilThe Guardian e Unearthed como comum no setor. Em resposta, a JBS negou fazer vista grossa e afirma que “já bloqueou dezenas de milhares de fazendas” por violação de suas políticas. A empresa também lançou os chamados “Escritórios Verdes” e diz oferecer assistência técnica a produtores para adequação ambiental.

Mesmo entre fornecedores diretos, que supostamente estariam 100% regularizados, há brechas. Em outubro de 2024, o Ibama flagrou uma compra de gado feita diretamente de uma fazenda com desmatamento ilegal. A empresa negou ter adquirido animais de área embargada e afirma que suas compras estão de acordo com a legislação e com suas próprias políticas internas.

Além das questões ambientais, a empresa foi recentemente autuada pelo Ministério do Trabalho e Emprego por manter trabalhadores em situação análoga à escravidão em granjas fornecedoras no Rio Grande do Sul, com jornadas exaustivas de até 16 horas por dia. A empresa afirma ter tolerância zero com violações de direitos humanos e contesta a autuação.

Em 2023, cinco fornecedores de gado da JBS foram incluídos na “lista suja” do trabalho escravo. Em nota, a empresa informou que bloqueou imediatamente os fornecedores.

Críticas à tentativa da empresa de ingressar na Bolsa de Valores de Nova York também vêm ganhando força. Organizações como Global Witness, Greenpeace e Mighty Earth denunciam que a listagem ignora os riscos socioambientais da companhia e destacam o “papel desproporcional” da JBS no desmatamento da Amazônia.

Em nota, a empresa sustenta que adota padrões ambientais e que sua meta de eliminar o desmatamento da cadeia produtiva até 2025 segue de pé. Segundo a JBS, a meta climática nunca foi uma “promessa formal”, mas sim uma aspiração.

Apesar das polêmicas, a JBS segue ampliando sua presença global. A empresa afirma que está comprometida com a sustentabilidade e que trabalha para garantir uma cadeia produtiva “livre de irregularidades e socialmente responsável”.

 

 

 

Fonte: BRASIL DE FATO

Editado por: Geisa Marques

Faça um comentário // Expresse sua opinião...

Veja os últimos Comentários

Veja também

Recursos possíveis e prisão: os próximos passos da condenação de Bolsonaro

Recursos possíveis e prisão: os próximos passos da...

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e outros sete réus envolvidos em uma tentativa de golpe de Estado foram conde...

Suspeito de matar ativista Charlie Kirk escreveu mensagens em munição

Suspeito de matar ativista Charlie Kirk escreveu m...

O suspeito de matar o ativista pró-Trump, Charlie Kirk, na quarta-feira (10), está detido em uma cadeia do estado americano de Utah s...

Eduardo Bolsonaro defende ação militar dos EUA contra o Brasil

Eduardo Bolsonaro defende ação militar dos EUA con...

O deputado Eduardo Bolsonaro (PL) defendeu um ataque militar dos