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Primeira fazenda urbana de cannabis medicinal no Brasil fica em Olinda e transforma 9 mil vidas

Primeira fazenda urbana de cannabis medicinal no Brasil fica em Olinda e transforma 9 mil vidas

Em Olinda, no Grande Recife, está localizada a primeira fazenda urbana de cannabis medicinal do Brasil. A iniciativa faz parte do setor privado, tem produção própria e cerca de nove mil associados. Nesta quinta-feira (9), a Aliança Medicinal abriu as portas da cadeia produtiva para uma visita técnica e mostrou como são produzidos os óleos com extratos da cannabis e que têm transformado a qualidade de vida de milhares de pessoas em Pernambuco e em todo o país.

O uso medicinal da planta, que tem origem na flor da maconha e é fonte para diferentes substâncias (fitocanabinoides), ainda gera debates acalorados na sociedade civil. No geral, tanto a população, como a classe médica, demonstram uma forte resistência ao uso da medicação terapêutica, ainda que existam evidências científicas dos benefícios do extrato para aumentar a qualidade de vida, disposição e até mesmo expectativa de vida dos pacientes.

Em novembro, a Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe) deu um passo adiante nesta discussão e aprovou, por unanimidade, um projeto de lei que permite a distribuiçao gratuita de medicamentos a base de canabidiol. Além do tratamento público, através do Sistema Único de Saúde (SUS), o paciente que possuir prescrição para tratamento com fitocanabinoides pode adquirir o produto e iniciar o tratamento, conforme orientação do profissional de saúde.

A Aliança Medicinal

A aliança surgiu em 2020, mas o contato de Hélida Lacerda com o canabidiol aconteceu muito antes, entre 2017 e 2018. Presidente da Aliança Medicinal, Hélida é mãe do menino Antonny, à época com 12 anos. Segundo relatos da matriarca, o adolescente sofria de epilepsia refratária e ataxia progressiva, além de deficiência intelectual. O cultivo começou ainda na garagem de casa; por necessidade, Hélida Lacerda se expôs aos riscos de cultivar uma planta que era alvo de ainda mais restrições naquele período.

“A Aliança começou por causa do meu filho. Ele convulsionava todos os dias, chegou a ter 80 convulsões por dia. Ele já tinha tomado 15 medicamentos anticonvulsivantes diferentes e a médica já tinha ‘desenganado’ ele, disse que ele só viveria um ano. Então, conheci um médico de Minas Gerais, que fez a consulta com meu filho, prescreveu o óleo e meu filho começou a tomar. Foi fantástico, eu nunca tinha visto o meu filho sem ter convulsões”, relata a mãe.

A presidente ressalta que tinha medo de denúncias e até de uma eventual prisão, mas que o medo de perder o filho era maior. “Comecei em casa, na garagem, como muitas mães. Conforme a produção foi ampliando, surgiu a necessidade de mais pessoas e de uma padronização, para poder a gente conseguir chegar na Justiça e pedir uma autorização. Só que eu não era boa com o cultivo, então precisava de um agrônomo. Foi assim que conheci Ricardo [diretor-executivo da Aliança]”, acrescentou.

Como funciona a cannabis medicinal?

Segundo a médica clínica geral e pesquisadora Rafaela Espósito, da Aliança Medicinal, a concentração do extrato e a frequência da dosagem vai depender da recomendação médica. É sempre necessário ter uma prescrição e ser acompanhado por um profissional, para mapear os sintomas e utilizar os óleos de cannabis medicinal de forma terapêutica, para aliviar ou mitigar sinais. 

“De três anos para cá o cenário mudou muito e vemos cada vez mais médicos buscando se especializar na cannabis medicinal. Não há especializações específicas, mas cursos que ensinam os médicos a atuarem com a utilização dos fitocanabinoides. Há pessoas que já procuram o tratamento para situações alternativas, de forma preventiva, para melhorar o desempenho esportivo ou para prevenir o esquecimento e doenças como o Alzheimer”, afirma Rafaela.

A lista de diagnósticos que o tratamento com os óleos contempla é grande e inclui comorbidades graves. “A gente consegue, através da planta, da flor da cannabis, encontrar melhoras de sintomas para muitos diagnósticos. Dentre eles, insônia, demência, Parkinson, ansiedade, depressão, TDAH, epilepsia, autismo e muitos outros. É uma descoberta recente, mas não tão recente. Na antiguidade, já se ouvia falar do uso da planta para amenizar dores, inclusive na hora do parto”, conclui a médica.

A produção

A Aliança Medicinal comercializa óleos com valores entre R$ 150 e R$ 390, a depender da concentração das substâncias. As opções são de 1,5% de extrato (R$ 150), 3% (R$ 260) e 6% (R$ 390). O frasco de menor concentração dura cerca de um mês, mas os mais concentrados podem durar entre dois e três meses, a depender da quantidade de dosagens por dia.

Por esta razão, apesar de ter nove mil associados, a empresa vende cerca de dois mil frascos mensalmente, pois a frequência de aquisições de um mesmo comprador ocorre com recorrências diferentes.

Para chegar ao comércio, a cannabis medicinal passa por um processo rigoroso para se encaixar nos padrões técnicos. “Aqui tudo acontece por etapa, lá no berçário, que é o nosso primeiro passo. Os ‘talinhos’ [pequenas partes de uma planta maior e com raiz, chamada de ‘planta mãe’] são retirados de plantas saudáveis e passam por um processo de enraizamento na incubadora. Aqui damos condições da planta permanecer ‘viva’, mas de certa forma, a forçamos a adquirir formas de nutrição. Esse estágio dura, em média, 25 dias”, explica o engenheiro agrônomo Ricardo Hazin, diretor-executivo da Aliança.

Após o período da incubadora, as novas plantas vão para a cadeia produtiva e passam pelas fases vegetativa e de floração, o que leva até 30 dias. Nas condições corretas, a extração dos óleos pode acontecer quase que imediatamente, segundo o especialista. A análise laboratorial dos óleos, porém, leva mais 20 dias. Caso aprovado, o produto segue para rotulação e venda.

 

 

 

 

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