Muitos no país acreditam que espíritos dos heróis da independência ajudaram a seleção se classificar
O Haiti é um país que adora futebol e celebra a volta à uma Copa do Mundo após meio século, mas quando a seleção marcou cada um dos dois gols da vitória sobre a Nicarágua na última terça-feira (18), não se ouviram celebrações imediatas, como ocorreria em qualquer cidade do mundo. Isso porque, sem luz e com poucos aparelhos de TV no país, os torcedores acompanharam os jogos da telinha de celular, penando com a intermitência da cobertura de internet.
“Apesar dos problemas de internet, não temos bom sinal, não temos televisão, mas a gente faz o máximo”, disse Maykenley Dantil ao Brasil de Fato. Assistindo com amigos na cidade de Pignon, o estudante de agronomia diz que “mesmo quando assistimos, às vezes cai a imagem, mas a gente consegue ver o gol depois”.
“A gente se anima, fica feliz, e a gente espera que um dia melhor, muito melhor, virá, para a gente poder assistir o jogo num lugar bacana, para que a insegurança não nos dê mais problema, porque os melhores jogos não são jogados no Haiti e, apesar de termos um estadio em Porto Príncipe, não jogamos lá por causa da insegurança”.
Um dos amigos com quem Dantil compartilha a visão da telinha foi David Augustin, que lamenta não poder ver jogos de qualidade ao vivo. “Espero que em eliminatórias futuras os jogos aconteçam no Haiti, para que a gente possa ficar feliz, sentir prazer”, diz o estudante de contabilidade.
A crise haitiana é multifacetada e atinge praticamente todos os aspectos da vida. Além de faltar luz e a precariedade de internet, a ausência de estado somada com as centenas de gangues impedem a livre circulação.
O campeonato haitiano não é disputado desde 2020, como mandante, a seleção disputa suas partidas na vizinha Curaçao e todos os convocados são da diáspora haitiana, atuando em diversos países como Estados Unidos, França, Equador, Costa Rica, Grécia e até na Premier League inglesa.
O técnico, o francês Sébastien Migne, nunca pisou em solo haitiano. Há 18 meses no cargo, ele fez uma ótima campanha, à frente de Costa Rica, Honduras e Nicarágua.
Mesmo diante de tantas adversidades, a equipe encerrou as eliminatórias invicta nos últimos jogos e terminou na liderança do Grupo C, superando as mais poderosas Honduras e Costa Rica, além da Nicarágua. O destaque do time é Duckens Nazon, 31 anos, que joga no Esteghlal do Irã e se tornou o artilheiro das eliminatórias da Confederação das Associações de Futebol da América do Norte, Central e Caribe (Concacaf) com seis gols.
A única outra participação haitiana em copas foi em 1974, durante a chamada “era de ouro” do futebol haitiano. No mundial da Alemanha, o sorteio os pôs no mesmo grupo que a vice-campeã da Copa anterior, a Itália, a campeã da seguinte, Argentina, e terceira colocada daquele torneio, a Polônia. Foram 14 gols sofridos e dois marcados, nas três derrotas.
O jogo decisivo ocorrido na terça-feira (18) deu à classificação outra dimensão. Nesta data, o país celebra o Dia da Vitória, em memória da Batalha de Vertières, última e decisiva ação militar contra o exército de Napoleão e a derrota do império francês. A revolta consolidou o Haiti como a primeira nação independente da América Latina e o primeiro país do mundo a abolir a escravidão.
“Estamos realmente muito felizes, isso nos toca por dentro porque o 18 de novembro é também uma data que nos dá a referência de uma batalha. Todos os espíritos ajudaram os jogadores para que pudessem conseguir a qualificação”, diz Augustin.
Dantil concorda, afirmando que, nesta data, eles lembram “de muitos líderes que batalharam pela gente e hoje, todos nós haitianos estávamos nesta batalha”.
“Eu acho que todos os líderes imortais estavam junto com a gente e com os jogadores no campo”.
*Com Rodrigo Durão Coelho
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Editado por: Luís Indriunas
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