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275 Anos de Mato Grosso/ Por Suelme Fernandes

275 Anos de Mato Grosso/ Por Suelme  Fernandes

 

Pelos relatos de Francisco Caetano Borges nos Anais de Vila Bela de 1754 sobre a expansão da conquista portuguesa da Vila de Cuiabá em direção oeste para cordilheira dos Andes, os primeiros achados de ouro desta região indicam o nome de dois desbravadores bandeirantes, ofuscando os demais homens envolvidos na bandeira.

O relato informa que saiu da Vila do Cuiabá em 1734 os irmãos  Fernando e  Artur Paes de Barros, naturais de Sorocaba, em busca de aprisionar os cobiçados e valiosos indígenas denominados Pareci que eram vendidos como escravos em Cuiabá e São Paulo. 

Depois de conquistarem alguns na sua vastas campanhas, cursaram mais ao poente, e arranchando-se no ribeirão que deságua no rio Galera, o qual corre ao nascente a buscar o rio Guaporé, e aqueles nasce das fraldas da serras hoje chamadas de São Francisco Xavier, fazendo experiência de ouro, tiraram nele três quartos de uma oitava (aproximadamente 2 quilos e meio).

Em função desse achado o nome do primeiro povoado da região da atual Vila Bela da SS. Trindade, foi São Francisco Xavier e deve-se ao financiador da expedição, o comerciante cuiabano Luiz Rodrigues Villar, que ao receber a notícia dos novos achados, estava lendo a vida do grande apóstolo da índia São Francisco Xavier. 

Destaco que essas posses desde Cuiabá a São Francisco Xavier e Vila Bela  eram locais de litígios diplomáticos por causa do Tratado de Tordesilhas de 1494 que definiu as posses na América entre as coroas de Portugal e Espanha.

Surgia uma nova região de exploração, como produto destas ambições de ouro que movia paixões e delírios  um novo nome na cartografia portuguesa: Mato Grosso, 14 anos antes da própria capitania (1736-1748).

A região recém ocupada  passou a ser identificada no batismo dos lugares dos mapas e documentos da época como Mato Grosso, o Mato Grosso dos Pareci, o Mato Grosso do Sertão dos Pareci, Sertão de Mato Grosso no Reino dos Pareci.

Tais descobertos de ouro e o desejo de expandir o território de domínio português sob terras hispânicas  no vale do Guaporé motivaram a constituição da capitania de Mato Grosso em 1748 estrategicamente naquele local.

Para o cronista José Gonçalves da Fonseca, os primeiros registros manuscritos que apresentam a expressão Mato Grosso em 1734, que mais tarde veio a nomear a capitania seriam atribuídos os achados auríferos de São Francisco Xavier.

“(...) saindo uma tropa de gente da Vila do Cuiabá a explorar as campanhas dos gentios chamados Pareci (...), que habitava nas dilatadas planícies ao norte da grande chapada, e achando a referida tropa todo aquele continente destituído de tudo que pudesse fazer interferisse as suas diligências, se determinaram a atravessar a cordilheira das gerais de oriente para poente; e como estas montanhas são escalvadas, logo que baixaram à planície da parte oposta aos campos dos Pareci (…) toparam com matos virgens de arvoredo muito elevado e corpulento, que entrando a penetra-lo o foram apelidando Mato Grosso; e este é o nome que ainda hoje conserva todo aquele distrito.”

O topônimo e nome de batismo de Mato Grosso é de maneira explícita uma referência a floresta amazônica e surge, como distinção paisagística do cerrado (onde se iniciou a colonização).

Isso explica o aparente paradoxo do nome do Estado, pois os primeiros núcleos populacionais surgiram 17 anos antes do surgimento da Capitania em 1719 com Cuiabá no bioma cerrado que é formado de espécie arbóreas de volume e altura inferior ao bioma amazônico. O nome do Estado tem a ver com a criação de Vila Bela como capital no bioma amazônico. Isso explica também porque Cuiabá é mais velha que Mato Groso e porque não foi a primeira capital e porque esse ano Cuiabá completou 304 anos e Mato Grosso 275.

A criação da Capitania de Mato Grosso em 1748 e a definição da primeira capital no Guaporé e não em Cuiabá nasce entre outros motivos para garantir e legitimar as expansões territoriais e conquistas lusitanas na fronteira oeste da colônia portuguesa na América sobre os domínios espanhóis.

A descoberta  de faíscas de ouro às margens dos rios Sararé e Galera desembocou numa nova marcha de ocupação, agora no sentido Cuiabá - Guaporé, através dos arraiais de São Francisco Xavier (1734), Ouro Fino (entre 1734-1740), Nossa Senhora de Santana do Pilar (entre 1734-1740). Infelizmente só restam  ruínas desses arraiais.

Sabendo das façanhas expansionistas de seus súditos no ultramar que alargara as terras da conquista e as mechas de ouro encontradas naquelas paragens, El Rey no dia 09 de maio de 1748 através de alvará régio determina a criação de uma capitania desmembrando essa região da Capitania de São Paulo.

A capitania foi efetivamente instalada em 1751 com a posse do primeiro capitão general de Mato Grosso, Dom Antônio Rolim de Moura Tavares depois vice-rei do Brasil Conde de Azambuja e hoje completa 275 anos de exigência.

Suelme Fernandes é historiador em MT 

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