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As novas tecnologias da água de beber em Cuiabá

NEILA BARRETO

As novas tecnologias da água de beber em Cuiabá

A Coroa portuguesa, entre os séculos XVI e XVIII, manteve a herança dos tratadistas do Renascimento quanto às concepções de bons lugares para a edificação de ambientes urbanos: ter em conta a existência de boas águas.

 

No século XVIII, já se consolidara o abastecimento público de água potável e se fazia por meio de fontes, poços públicos, bicas e chafarizes e a administração portuguesa determinava que a captação e a distribuição de água fossem de responsabilidade de cada vila. Algumas vezes, em determinadas vilas, ocorria o abastecimento de água potável por meio da captação direta num rio bem próximo ao espaço urbano. Isso, se por um lado facilitava o acesso à água, por outro, podia ser prejudicial à saúde dos moradores.

 

Em fins do século XVIII eram comuns as observações sobre o risco de as águas dos rios serem más, para ingestão direta ou por processos naturais, à exemplo das enxurradas das águas, que escorrem das serras das cabeceiras dos rios, arrastam consigo as diversas substâncias térreas, salinas e metálicas, de que abundam as mesmas terras. (...) e os que as bebem por costume logo que as tiram dos rios, sem esperar que assentassem nos potes, de um para outro dia, depõem no ventrículo, de cada vez que as bebe, um sedimento viciado, o qual obstruindo os orifícios dos pequenos vasos anuncia pelos clorosis à obstrução que todo mundo sabe, que é como um seminário de outras queixas em que degenera, como são as palpitações de coração, as cardialgias, a icterícia, etc.

 

Mas, por outro lado, também pela formação de ambientes urbanos, com o adensamento de população e de atividades (açougues), curtumes, fornos de cal, azougue usado em mineração ou fundição, sementes de algodão e cascas de arroz, ausência de esgotos, diário despejo de dejetos em córregos e rios e, enfim, lavagem de roupas, inclusive de doentes e banhos no rio, - tudo isso contribuía para prejudicar a qualidade das águas fluviais.

 

Para amenizar esses problemas, novas tecnologias foram buscadas com o objetivo de sanar esses problemas, à exemplo do serviço padrão de abastecimento urbano de água potável nas vilas e nas cidades coloniais onde incluía aquedutos de variadas formas construtivas e a distribuição por chafarizes, sendo o primeiro construído em 1723, na cidade do Rio de Janeiro, no atual Largo da Carioca, com água doce captada no rio Carioca e a ele trazida por aqueduto, espalhando o modelo para outras vilas e cidades coloniais.

 

Em São Paulo, chafarizes datam de pelo menos os anos 1740, com detalhes construtivos como (...) fatura de uma fonte com cano de pedra de cantaria, feita com toda a segurança, pelo preço de quatrocentos mil réis, segundo Afonso Taunay.

 

Na vila e depois cidade de Meia Ponte, Capitania, depois Província de Goiás existiram três chafarizes, constantemente reparados, “pontos de relevância dentro da cidade colonial, por significarem abastecimento de água limpa e, simultaneamente, figurarem-se como locais de sociabilidade, principalmente dos escravos”, conforme Adriana Oliveira.

 

A construção de chafarizes e aquedutos foi importante como novo sistema de abastecimento público de água potável, em sequência ao das fontes e bicas com que coexistiram. Ambos os sistemas resultavam da ação pública das câmaras sediadas nas vilas e cidades.

 

Em Cuiabá, essas novas tecnologias, foi inaugurado em novembro de 1790. Para o historiador Carlos Rosa, beirando o fim do século, em 1790, possíveis pressões de moradores abastados das ruas de Baixo e do Oratório, atual centro histórico da cidade, é que levaram à construção do primeiro chafariz, ao pé da ponte da Igreja do Rosário, alimentado pelas águas da Fonte do Ernesto, trazidas por meio de tecnologia gravitacional, num aqueduto. “(...) o Aqueduto de madeira. ” (...)

 

A cabeceira oriental do Aqueduto era apoiada em terreno murado em taipa coberta com telhas, conforme “Prospecto da Villa do Bom Jesus do Cuiabá...”; 278 – Cuiabá – 1790, autor não identificado (talvez Joaquim José Freire ou José Joaquim Codina); feito durante a “Viagem Filosófica” de Alexandre Rodrigues Ferreira, cuja imagem está no acervo do Museu Bocage, Lisboa, em Nestor Goulart Reis Filho, no livro Imagens de vilas e cidades do Brasil colonial. São Paulo.

 

Perpassando por esses caminhos, Cuiabá modernizou suas novas tecnologias em 1822, com a captação e adução de água por meio da Hidráulica do Porto, cuja água era trazida até o morro da caixa d´água velha e distribuída para a cidade por meio de abastecimento por gravidade.

 

Neila Barreto é jornalista, mestre em História e membro da AML.

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