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Tenho saudade

GABRIEL NOVIS NEVES

Tenho saudade

Tenho saudade de sentir saudade, e isso me faz sofrer, sinal que tive um passado muito feliz, e que os tempos bons que me fazem sentir saudades não voltarão mais.

 

Domingo pela manhã é impossível não sentir saudades.

 

Moro no bairro Duque de Caxias, ao lado do antigo Quartel do 16º Batalhão de Caçadores.

 

Pelas manhãs silenciosas dos domingos, da janela do meu escritório no 20º andar, só percebo o ruído dos pneus dos veículos no asfalto, nem cães vadios latem e os passarinhos foram dormir.

 

Do pátio interno do quartel “os recrutas” fazem exercícios físicos cantando em voz alta canções militares.

 

Vez ou outra, o sargento responsável pela tropa, traz os militares para marchas aceleradas nas ruas que abraçam a quadra do quartel.

 

Cantam o tempo todo, aquelas marchas que só são cantadas durante os exercícios militares, puxadas por um colega e repetida por todos.

 

Eles “vendem” felicidade durante todo esse tempo de treinamento.

 

Isso me faz recordar, como num reflexo condicionado o ano de 1955, quando estava matriculado no Centro Preparatório dos Oficiais da Reserva (CPOR) no Rio de Janeiro.

 

Cursava o 1º ano de Medicina, na antiga Faculdade de Medicina da Praia Vermelha, da Universidade do Brasil.

 

Durante o período escolar de 1955 todos os domingos, às seis horas da manhã, estava no Quartel de São Cristóvão para ouvir à Ordem do Dia do Coronel Comandante.

 

Depois, exercícios físicos até às nove horas da manhã, nos lindos jardins da exuberante Quinta da Boa Vista, residência oficial do Imperador do Brasil.

 

Esses exercícios físicos que eu fazia aos domingos de antigamente, são iguais aos que ouço e vejo da janela do meu escritório.

 

No período das férias de julho e dezembro, os exercícios eram diários, com folga aos domingos.

 

Dos cuiabanos meus colegas da turma de medicina, eu fui o único que serviu ao Exército Brasileiro, assim como dos meus três irmãos.

 

Pouca sorte deles que não sentem saudades aos domingos pelas manhãs, quando passam pelo quarteirão do 16º BC.

 

Sentir saudades é bom, dói, porém, é gostoso.

 

Gabriel Novis Neves é médico em Cuiabá

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