@crsf

Etanol, desmatamento, corrupção e Pix: o que está na mira de Trump

Estados Unidos destacaram tópicos que são alvo da investigação sobre sobre o que eles consideram "práticas desleais" do Brasil

Etanol, desmatamento, corrupção e Pix: o que está na mira de Trump

O Departamento de Comércio dos Estados Unidos deu início a uma investigação sobre o que eles consideram "práticas desleais" do Brasil, destacando alguns atos e setores que, segundo o órgão, podem impactar e comprometer o comércio americano.

Conforme documento divulgado na terça-feira (15), a investigação determinada por Donald Trump recai especialmente sobre: comércio digital e serviços de pagamento eletrônico; tarifas "injustas e preferenciais"; fiscalização anticorrupção; proteção de propriedade intelectual; desmatamento ilegal; e até mesmo ao acesso ao mercado de etanol.

Etanol

Para o Departamento de Comércio dos Estados Unidos, há deslealdade por parte do Brasil no comércio do etanol, dado que os dois países são os dois maiores produtores do combustível no mundo e adotaram posturas diferentes nos últimos anos.

"Os Estados Unidos sofrem com tarifas mais altas sobre o etanol impostas pelo Brasil e com o desequilíbrio comercial resultante da decisão do Brasil de abandonar o tratamento recíproco, praticamente isento de impostos, que promoveu o desenvolvimento de ambas as indústrias e um comércio florescente e mutuamente benéfico", diz.

No documento, o órgão cita que os dois países tomaram medidas para estabelecer um comércio bilateral de etanol praticamente isento de impostos entre 2010 a 2017, o que deixou de acontecer nos últimos anos.

"Desde então, os produtores de etanol dos EUA têm, por vezes, enfrentado tarifas de importação brasileiras elevadas e injustas sobre seus produtos", pontua.

O Brasil impôs pela primeira vez uma cota tarifária (CTQ) de 600 milhões de litros anuais em 2017, com uma alíquota extra de 20% sobre as importações de etanol. Depois de mudanças sobre a cobrança nos anos subsequentes, fixou a alíquota em 18% em 1º de janeiro de 2024.

"As exportações de etanol dos EUA para o Brasil atingiram o pico de US$ 761 milhões em 2018, mas caíram para US$ 140.000 em 2023 e foram de US$ 53 milhões em 2024, sugerindo que os produtores de etanol dos EUA estão em desvantagem significativa sob o atual sistema tarifário".

Desmatamento

Os Estados Unidos também acreditam que o desmatamento ilegal no Brasil tem levado a uma vantagem desleal para agricultores e pecuaristas brasileiros. Na visão dos americanos, as áreas desmatadas ilegalmente impulsionam a produção agrícola de gado e uma ampla gama de culturas, incluindo milho e soja.

"Embora os Estados Unidos tenham um superávit comercial geral com o Brasil em bens e serviços, o déficit comercial dos EUA com o Brasil em produtos agrícolas aumentou acentuadamente nos últimos anos, de aproximadamente US$ 3 bilhões em 2020 para US$ 7 bilhões em 2024".

O governo americano reconhece que "as taxas de desmatamento tenham diminuído" nos últimos anos, mas diz que "os esforços de fiscalização do Brasil não impediram o desmatamento ilegal".

"Relatórios estimam que mais de um terço de toda a madeira da Amazônia seja de origem ilegal, seja por ser extraída ilegalmente de terras protegidas ou por ser extraída sem as devidas autorizações e aprovações".

Nesse sentido, os EUA dizem que locais de produção sancionados continuam a vender madeira para compradores americanos, o que faz com que o produto entre ilegalmente no país e possa ser vendido a preços mais baixos, em violação a legislações, como a Lei Lacey.

O problema do desmatamento ilegal que os Estados Unidos dizem ser atingidos está ligado diretamente à corrupção no Brasil, de acordo com o Departamento de Comércio americano.

Além disso, os EUA destacam há falta de medidas anticorrupção e falta de transparência no Brasil de modo geral, que acabam prejudicando empresas americanas envolvidas em comércio internacional.

"Evidências sugerem que os esforços do Brasil para combater a corrupção enfraqueceram consideravelmente em algumas áreas. Por exemplo, relatos indicam que promotores firmaram acordos obscuros para oferecer leniência a empresas envolvidas em corrupção e indicam conflitos de interesse em decisões judiciais".

O documento ainda cita o suborno de funcionários públicos e lavagem de dinheiro, com "decisões de um ministro da Suprema Corte para anular condenações".

Comércio digital

Em outro tópico que o STF (Supremo Tribunal Federal) é mencionado, o governo dos Estados Unidos diz que o Brasil se envolve em "uma variedade de atos, políticas e práticas" que podem prejudicar a competitividade de empresas americanas no comércio digital e em serviços eletrônicos.

Nesse contexto, sistema de pagamentos brasileiro é citado como exemplo de como o governo local favorece o país em detrimentos das empresas norte-americanas, em alusão ao Pix, a ferramenta de pagamento instantâneo do Banco Central que rapidamente caiu nas graças dos brasileiros.

Um dos casos mais emblemáticos dessa concorrência entre sistemas de pagamento aconteceu com o serviço WhatsApp Pay, que é controlado pela big tech Meta.

O Departamento de Comércio dos EUA aponta para a atuação da Suprema Corte para responsabilizar as empresas de mídia por postagens ilegais de usuários, "mesmo na ausência de ordem judicial para remover esse conteúdo", e que nesse contexto estão postagens que incluem discursos políticos.

"Esse regime poderia desencadear a remoção preventiva de conteúdo e restrições a uma ampla gama de discursos, além de aumentar significativamente o risco de danos econômicos às empresas de mídia americanas. Além disso, tribunais brasileiros emitiram ordens secretas instruindo as empresas americanas de mídia a censurar milhares de postagens e remover dezenas de críticos políticos, incluindo cidadãos americanos, por discursos lícitos em território americano".

O órgão segue dizendo que, quando as empresas norte-americanas se recusaram a se sujeitarem a esse tipo de ordem, os tribunais brasileiros impuseram multas substanciais, suspenderam as plataformas de operar e "ameaçaram executivos" das empresas com prisão ou processo criminal.

Tarifas "injustas"

Um dos principais argumentos de Donald Trump para taxar outros países é a tarifação "injusta" que ele considera dessas nações aos Estados Unidos. No caso do Brasil, a acusação é que o país reduziu as tarifas para outros parceiros comerciais, prejudicando os americanos.

"Nesses acordos, o Brasil concede tratamento tarifário preferencial mais baixo apenas a certos grandes parceiros comerciais em setores específicos, incluindo setores nos quais esses parceiros comerciais são globalmente competitivos", destaca o Departamento de Comércio dos EUA.

Em particular, é citado um "tratamento tarifário preferencial" do Brasil ao México e à Índia, com alíquotas entre 10% a 100% inferiores à praticada normalmente pelo país no comércio internacional.

"Esse tratamento preferencial se aplica a centenas de produtos em vários setores, como produtos agrícolas, veículos automotores e peças, minerais, produtos químicos e máquinas".

Propriedade intelectual

Por fim, o Departamento de Comércio dos Estados Unidos também menciona a ineficácia de atos, políticas e práticas brasileiras em relação à proteção intelectual e à aplicação adequada de leis sobre o tema.

"A falsificação continua disseminada porque as operações de fiscalização não são seguidas por medidas ou penalidades dissuasivas e pela interrupção a longo prazo dessas práticas comerciais ilícitas", pontua o órgão.

Segundo o governo americano, o Brasil falhou em lidar efetivamente com a importação, distribuição, venda e uso generalizados de produtos falsificados, consoles de jogos modificados, dispositivos de streaming ilícitos e outros itens.

"A incapacidade do Brasil de lidar com essas questões prejudica os trabalhadores americanos cujos meios de subsistência estão vinculados aos setores norte-americanos impulsionados pela inovação e criatividade".

 

Fabrício Julião, da CNN, em São Paulo

Faça um comentário // Expresse sua opinião...

Veja os últimos Comentários

Veja também

MAURO MENDES REAFIRMA APOIO A PIVETTA E DIZ QUE, SE FOR CANDIDATO AO SENADO, SUA CHAPA JÁ ESTÁ PRONTA

MAURO MENDES REAFIRMA APOIO A PIVETTA E DIZ QUE, S...

Em entrevista recente, o governador de Mato Grosso, Mauro Mendes (União Brasil), voltou a comentar sobre o cenário sucessório...

Etanol, desmatamento, corrupção e Pix: o que está na mira de Trump

Etanol, desmatamento, corrupção e Pix: o que está...

O Departamento de Comércio dos Estados Unidos deu início a uma investigação sobre o que eles consideram "prá...

EUA citam Pix como exemplo de decisão do Brasil que prejudicou americanos

EUA citam Pix como exemplo de decisão do Brasil qu...

Pix faz parte da grande lista de reclamações mencionada no processo de investigaç&at...