@crsf

ONU cobra Brasil sobre regras anticorrupção em escritórios de advocacia

Convenção da ONU contra a Corrupção recomenda que o país adote medidas de controle no setor; OAB defende sigilo profissional como pilar do direito de defesa.

ONU cobra Brasil sobre regras anticorrupção em escritórios de advocacia

Um relatório da Uncac - Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção aponta que o Brasil ainda não implantou mecanismos específicos para prevenir a lavagem de dinheiro em escritórios de advocacia.

O documento analisa o cumprimento das diretrizes do tratado, do qual o país é signatário desde 2006, e recomenda ações para reforçar o combate à corrupção.

Apesar disso, a proposta de regular obrigações para advogados e demais profissionais jurídicos enfrenta resistência da OAB.

Menção à advocacia

O relatório da Uncac, publicado em abril de 2025, avalia a aplicação das normas internacionais anticorrupção no Brasil e identifica lacunas no cumprimento das obrigações assumidas pelo país.

Entre os principais pontos, a ONU cobra do Brasil a regulamentação das obrigações de advogados e outros profissionais jurídicos em relação à prevenção e combate à lavagem de dinheiro.

O documento cita a lei 9.613/98, alterada em 2012, que define o crime de lavagem de dinheiro e estabelece regras de prevenção. Essa lei prevê que, além das instituições financeiras, também determinadas atividades não financeiras e profissões específicas devem adotar medidas de controle - o que pode incluir advogados, notários e contadores.

No entanto, o relatório observa que até o momento apenas os cartórios (notários e registradores) estão submetidos a uma regulação específica, com base no provimento 88/19 do CNJ. Não existe norma equivalente para os escritórios de advocacia, o que representa, segundo a ONU, uma falha na aplicação das recomendações internacionais. 

O documento recomenda, expressamente, que o Brasil:

"Regulate the obligations of lawyers and other independent legal professionals in respect of countering money-laundering (art. 14, para. 1)."

"Regule as obrigações de advogados e outros profissionais jurídicos independentes no tocante à prevenção da lavagem de dinheiro."

A recomendação está listada entre os principais desafios de implementação (item 2.3 do relatório). 

O texto da Uncac destaca que a lei de lavagem é ampla o suficiente para incluir advogados entre os sujeitos obrigados a registrar e comunicar operações suspeitas ao Coaf. Contudo, até o momento, apenas os cartórios foram alcançados por regulação específica nesse sentido.

O relatório também lembra que outros países já possuem sistemas que obrigam advogados a reportar movimentações financeiras atípicas quando atuam em determinadas operações, como compra e venda de imóveis, constituição de empresas ou gestão de ativos, sem que isso necessariamente viole o sigilo profissional.

Para o órgão, a ausência de regulação específica sobre escritórios de advocacia dificulta o combate à lavagem de dinheiro no Brasil. Assim, recomenda que o país adote normas claras e proporcionais, conciliando o sigilo profissional com a responsabilidade de prevenir o uso indevido da advocacia para fins ilícitos.

Leia a íntegra do documento.
Posição da OAB

Em nota enviada ao Migalhas, a OAB Nacional afirmou que, "sem sigilo, não há direito de defesa assegurado", e que o cidadão é mais importante do que o Estado.

Veja a íntegra:

"Nota da OAB Nacional

A garantia do sigilo profissional do advogado brasileiro é semelhante a proteção que os advogados americanos e ingleses possuem. Sem esse sigilo, não há direito de defesa assegurado. O advogado é o profissional do cidadão e esse é mais importante do que o Estado. Os maus profissionais não podem servir como pretexto para aniquilar a garantia de defesa do cidadão."

 

 

 

 

 

 

 

 

link: https://www.migalhas.com.br/quentes/443634/onu-cobra-brasil-de-regras-anticorrupcao-em-escritorios-de-advocacia

Faça um comentário // Expresse sua opinião...

Veja os últimos Comentários

Veja também

CPMI do INSS ouve presidente de sindicato que faturou R$ 221 milhões

CPMI do INSS ouve presidente de sindicato que fatu...

A CPMI do INSS ouve, nesta segunda-feira (3/11), o depoimento de Abraão Lincoln Ferreira da Cruz, presidente da

ONU cobra Brasil sobre regras anticorrupção em escritórios de advocacia

ONU cobra Brasil sobre regras anticorrupção em esc...

Um relatório da Uncac - Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção aponta que o Brasil ainda n...

CST do Bioma Pantanal debate pagamento por serviços ambientais e segurança jurídica

CST do Bioma Pantanal debate pagamento por serviço...

A quarta reunião ordinária da Câmara Setorial Temática do Bioma Pantanal foi realizada nesta segunda-feira (3), na Assem...