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Chikungunya e o perigo dos anti-inflamatórios

Chikungunya e o perigo dos anti-inflamatórios

Recentemente um surto de Chikungunya tem assolado a Baixada Cuiabana. É muito difícil não ter alguém do seu entorno que não esteja queixando-se de dores articulares. Essa doença é, principalmente, transmitidas pelos mosquitos do gênero Aedes (principalmente albopictus e aegypti), mas também pode ocorrer durante transfusões de sangue e transmissão vertical (durante a gravidez - não está relacionada a efeitos teratogênicos como a Zika).

Causa uma infecção viral caracterizada pelos sintomas de dor de cabeça, dor muscular, erupções cutâneas e principalmente, por febre, cansaço, inchaço nas articulações, dores articulares (que ocorre em até 90% dos casos). Mas além disso, manifestações raras podem ocorrer, como uveíte, retinite, miocardite, hepatite, lesões cutâneas bolhosas, meningoencefalite, paralisias dos nervos cranianos, entre outras.

É preciso estar atento aos grupos de risco como recém-nascidos, idosos e portadores de doenças crônicas, como hipertensão e diabetes, podendo levar a morte. O diagnóstico é clinico podendo ser auxiliado pelos componeres laboratoriais. O padrão ouro é a identificação do vírus por RT-PCR mas as sorologias são de grande valia.

A poliartralgia decorre da ação do corpo contra o vírus que se reproduz nas articulações, com resposta imune principalmente dos linfócitos e da produção de interleucinas na região. A maioria dos indivíduos infectados se recupera totalmente, entretanto, alguns podem desenvolver a forma crônica, e apresentar uma artrite por meses ou anos. Essa cronificação é propensa a ocorrer em mulheres acima de 45 anos, que apresentam carga viral elevada e grande resposta inflamatória (com aumento das interleucinas) na fase aguda (que dura de 5 à 14 dias).

Perigosamente, muitos estão iniciando uso de anti-inflamatórios por contra própria a partir do sintoma de artralgia, porém, essa é prática é muito perigosa. Os anti-inflamatórios (nimesulida, diclofenaco de sódio, ácido acetilsalicílico, ibuprofeno e outros) são contra indicados na fase aguda por estarem associados às formas graves da doença, com risco de evoluir para insuficiência renal e hemorragias.

Ainda, por ser uma virose com sintomas muito semelhantes ao Dengue, é preciso que antes de iniciar o uso dos anti-inflamatórios, seja feita a diferenciação do diagnóstico pelo médico entre o dengue e a chikungunya. Ou seja, jamais inicie o uso de anti-inflamatórios na suspeita de chikungunya sem indicação médica.

O tratamento consiste em repouso, reidratação e medicação para a febre e para a dor, fincando longe dos anti-inflamatórios na fase aguda (até 14 dias). A prevenção é o melhor caminho, então evite a picada dos mosquitos, destrua os criadouros, utilize repelente de insetos e roupas de proteção.

*WILLER ZAGHETTO é médico pela UFMT e atua como perito oficial médico legista

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