O tempo tem sabor. Quem viveu muito sabe disso.
Na infância o tempo tinha gosto de manga chupada no pé, com o suco escorrendo pelo queixo. De pão com manteiga derretida no café da manhã. De geladinho de groselha comprado na porta da escola por moedas que sobravam do troco do armazém.
Na juventude, o tempo foi apressado, mas doce. Tinha o gosto do primeiro beijo, do primeiro baile, do primeiro emprego. O sabor das descobertas — umas amargas, outras apimentadas, todas marcantes.
Depois, veio o tempo com gosto de compromisso. Casamento, filhos, contas a pagar. O tempo ganhou o sabor do feijão bem temperado da esposa, do bolo de aniversário dos filhos, do churrasco de domingo com os amigos. Sabor de vida em movimento.
Agora, mais velho, o tempo tem outro paladar. Mais suave, mais lento. O café da manhã é sem pressa. A sopa à noite lembra a comida da mãe. O doce preferido da infância reaparece no paladar como se o tempo tivesse dado uma volta completa.
Há dias em que o tempo amarga — quando sentimos saudade de quem partiu ou de um tempo que não volta. Mas até a saudade tem sabor. E, se bem sentida, vira tempero da alma.
Hoje aprendi a saborear o tempo como um vinho raro. Cada gole é único. Cada dia, uma nova nota a ser descoberta. O tempo não é mais relógio — é paladar.
E percebo que viver é isso: um constante provar. De amores, de lutas, de silêncios. E de lembranças.
O sabor do tempo é o que guardamos na memória e levamos no coração. E ele se torna mais apurado quanto mais vivemos.
No fundo, o tempo é um banquete. Só precisamos aprender a degustá-lo.
Gabriel Novis Neves é médico, ex-reitor da UFMT e ex-secretário de Estado
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